Bom,
Nem vou falar nada sobre este lançamento, pois todos sabem que considero este filme o melhor filme brasileiro ja feito, e por ser um tema no qual estamos diretamente envolvidos, um dos filmes que mais me marcou ultimamente,
Não vou falar pois um jornalista ja falou tudo por mim: Jorge Antonio Barros
visitem o blog dele: http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/reporterdecrime/#76208
cinema
Tropa de elite é um tiro de calibre 12 na cara
Depois de longo silêncio por não ter visto o filme pirata, por uma questão de não compactuar com o crime (aviso logo que não sou politicamente correto, não), aqui vai minha crítica ao melhor filme brasileiro do ano, Tropa de Elite, que entrou em cartaz na sexta-feira:
Antigamente quando um filme era forte e nos tocava de alguma forma dizíamos que era “um soco no estâmago”, lembram? Pois não é à toa que o último take mostra o cano de uma espingarda calibre 12, vulgarmente conhecida como escopeta, apontado para a câmera (para o espectador, na verdade), o policial do Bope com o dedo no gatilho pronto para executar Baiano, o sanguinário chefe do tráfico de drogas do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa.
O filme de José Padilha (diretor do documentário "Ônibus 174"), à esquerda, é um tiro de calibre 12 (desenho da arma abaixo) na cara para estragar mesmo o velório.
É um tiro na cara da malandragem, de quem está alienado do que acontece no submundo da polícia e do crime, mas também na nossa ingenuidade, daqueles que insistem em acreditar que é possível reduzir os patamares de violência a que chegamos. Mas quem voltou de um tiro desses para contar a história? O filme é, acima de tudo, um documento da visão de um policial calejado no confronto nas favelas.
O filme não é fascista. É apenas uma denúncia vigorosa contra o tráfico nas favelas do Rio, a violência policial e a corrupção na Polícia Militar, que atinge os níveis mais altos da corporação, mesmo que apenas num representante, o coronel que saboreia um delicioso camarão enquanto os PMs estão arrecadando propinas na boca-de-fumo, nos pontos de jogo de bicho, clínicas de aborto e bordéis. O filme conta a história do capitão Nascimento, que comanda um pelotão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), no combate “enxuga gelo” contra o tráfico nas favelas do Rio. O Bope é a tropa de elite da PM criada em 1978 com o nome de Nucoe (Núcleo da Compania de Operações Especiais), cuja insígnia é uma caveira com um punhal encravado e duas pistolas, que à época foi refutada por grupos de direitos humanos por lembrar o Esquadrão da Morte, grupo de extermínio formado em sua maioria por policiais, investigado pela primeira vez na década de 60.
O Bope se transformou numas das tropas de assalto mais bem treinadas do mundo no combate em terreno irregular como o das favelas cariocas. E na década de 90 ganhou fama por ter sido a única polícia brasileira que não foi corrompida pelo crime organizado representado pelo banqueiro de bicho Castor de Andrade. Quando teve sua fortaleza em Bangu invadida pela polícia, que ali pegou a famosa Lista de Castor, com os nomes de quem estava na contabilidade do bicho, o bicheiro indagou surpreso: “Que polícia polícia é essa?”. Era o Bope. Nessa época acompanhei parte do treinamento dos "caveiras" e fiquei até amigo de alguns deles. Um deles se tornou até comandante-geral da Polícia Militar.
O filme só é fascista mesmo para quem se ofende com alguns debates que suscita como o da falência total da polícia como órgão de fiscalização da sociedade e o da cumplicidade dos usuários de drogas ilícitas (sobretudo os de fim de semana) com o tráfico nas favelas.
Embora seja apenas uma das pontas do crime organizado, o tráfico não apenas inferniza a vida de moradores das favelas e da vizinhança, mas também rouba a infância do morro, contamina com a narcocultura toda uma geração – tanto na favela quanto no asfalto - corrompe policiais e o sistema político, manipula setores do movimento social e impõe o terror ao melhor estilo das ditaduras que tivemos no Cone Sul.
O protagonista do filme, o capitão Nascimento, brilhantemente interpretado, diria até recriado, por Wagner Moura, sim, seria um excelente camisa-preta de Mussolini, por sua moral decadente. Só que, guardadas as devidas proporções, ele transmite com maestria a visão de velhos policiais, totalmente amparada em estereótipos construídos ao longo da atividade nas ruas. Em seu discurso marcado por convicções profundas nem sempre amparadas nos fatos, mas quase sempre na presunção deles, muitos policiais tentam simplificar o mundo que enfrentam no cotidiano com frases feitas e clichês do tipo “favelado é tudo bandido”, “playboy é tudo safado”, “ONG é tudo picareta”, “policial convencional é tudo corrupto” (achei incrível o capitão Nascimento não fazer juízo de valor dos repórteres). Mas não se pode dizer que todo policial é fascista. O filme é também um retrato sem retoques da visão do policial de combate sobre o mundo pelo qual transita com destreza e competência, na medida que seu bem maior, sua própria vida, é preservado.
Um dos filmes policiais brasileiros mais realistas de todos os tempos, “Tropa de Elite" dá de dez a zero no livro Elite da Tropa - que incluiu na capa uma foto do filme - embora os especialistas digam que não dá para se comparar diretamente cinema e literatura. O livro traz à tona denúncias gravíssimas, que jamais serão investigadas porque não dá nome aos bois, mas sua narrativa é fragmentada. Uma das denúncias, nunca investigadas nem pela imprensa, põe em xeque as estatísticas policiais: policiais de dois batalhões vizinhos jogam os corpos encontrados para a área do outro com o objetivo de reduzir os números de “encontro de cadáver” em sua jurisdição. O filme consegue alinhavar tudo e cumprir a função principal do cinema, que é contar uma história emocionante feita por gente de carne e osso (mais carne suja de sangue do que osso, é verdade).
O realismo de “Tropa de Elite” não está apenas nas bem produzidas cenas de tiroteios, torturas e espancamentos, na excelente direção dos atores, nos cenários e na música (a única falha que vi foi a maquete de uma favela; a maquete real, feita na gestão do coronel Wilton, era muito melhor). O filme dá nome às favelas do Turano (Tijuca), morros da Babilônia e dos Prazeres, diferentemente de “Cidade dos Homens” cujo cenário são favelas fictícias com base em favelas reais.
Agora, o sucesso de “Tropa de Elite” é mesmo a grande revelação de um messias vingador, aquele que muitos de nós busca para acabar com a violência em seis meses: o capitão Nascimento (foto acima), um protótipo de herói contemporâneo, em que o mundo não é mais dividido entre bandidos e mocinhos, entre esquerda e direita, entre brancos e negros, e, há quem acredite, entre ricos e pobres. Torturador e assassino de bandidos, espécie de policial, juiz e promotor, ao mesmo tempo, o capitão Nascimento tem até uma humanidade própria. Ele sente remorso ao ser procurado pela mãe que quer apenas o corpo do filho, fogueteiro do tráfico, para um enterro decente, mas ele foi executado pelos bandidos por ter falhado na vigilância da boca-de-fumo e virou um dos milhares de desaparecidos do tráfico.
Apesar de contribuir para as estatísticas de autos de resistência (mortes de supostos criminosos em suposto confronto com a polícia), que ocultam execuções (há até cenas de bandidos mortos pelas costas) , o “herói-vilão” capitão Nascimento faz sucesso porque é um ser humano parecido com cada um de nós, com suas ambigüidades e “desvios de conduta”. E que na verdade está louco para parar com aquilo tudo e se dedicar à mulher e ao filho nascido durante uma operação policial. Ele quer apenas um substituto à altura, que combata sem perdão o crime e os criminosos – fardados ou não. Só que a moral do capitão não vai resistir por muito tempo. Seu fervor contra o crime não cabe dentro das leis. Sua honestidade à toda prova com o tempo vai sucumbir porque não existe policial violento (no sentido de desrespeito às leis) que não seja corrupto e vice-versa. Policiais que acreditam que podem combater o crime usando métodos perversos nunca se manterão limpos porque a violência também é uma forma de corrupção moral. Nunca serão. Nunca serão.
3 comentários:
Só vi umas partes do filme, pois em casa, é meio complicado. Tenho que ver no cinema de qualquer jeito. O pouco que vi, deu pra perceber a qualidade do filme. O Wagner Moura não interpreta, ele incorpora o personagem. Infelizmente, é a realidade em que vivemos.
Um grande Beijo...
Oi Vi, nao deixe de assistir.... vale cada minuto de exibição!!! abraços
Obrigado por dar destaque ao meu artigo, Ed.
Grande abraço
jorge
Postar um comentário