Faz frio no campus Centro da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. O clima é típico de fim de semestre, com poucos gatos pingados circulando pela imponente construção que hoje ocupa o quadrilátero que um dia acolheu a fábrica da Alpargatas. Já faz alguns anos, a Anhembi Morumbi tem inovado na criação de cursos à frente de seu tempo, tendo em vista um mercado cada vez mais mutante e diversificado. Um exemplo, a graduação em Design de Games. Outro exemplo, o de Produção de Música Eletrônica.
O espaço amplo e os corredores de concreto gelado que nos conduzem em visita aos quatro estúdios disponibilizados pela universidade preparam o clima para que sejamos recebidos pelo hard-techno de Sérgio Muniz (foto menor), do núcleo Techno Pride. Ele pratica nas pick-ups revezando com seu colega de estudos Willian Fiorini. A impressão que se tem é boa, a julgar pela infra-estrutura e também pelo nível do som produzido pelos alunos. Um semestre faltando para completarem a graduação em dois anos, alguns dos estudantes nos receberam visivelmente satisfeitos com a escolha trilhada.
"Aqui nós aprendemos a importância das melodias, dos acordes, tomamos contato com a história da eletrônica desde os tempos de 1940, por exemplo, avaliamos produções clássicas e importantes, compomos na partitura", avaliou Willian, cujo pseudônimo artístico responde por Ogam. Aos 24 anos, o rapaz já sabe que o seu caminho mais promissor é o da música. "Desde que entrei até agora, desenvolvi bastante a minha sensibilidade, e as composições passaram a se tornar mais cuidadosas", contou satisfeito.
Abre-alas
Leonardo A., professor de teclado e sintetizador, ressaltou a importância do domínio do instrumento na produção eletrônica, "pois a partir dele outros instrumentos podem ser simulados". Segundo o professor, "a maioria dos alunos chega sem saber tocar outros instrumentos, e o teclado, nesse sentido, abre caminhos que elevam a qualidade das composições", explicou. Na visão de Willian, não só isso, mas toda a bagagem oferecida ajuda o músico a se diferenciar num cenário modulado pelas relações virtuais, cada vez mais acessível e populoso de novidades.
O coordenador Leonardo Vergueiro, especialista em Psicopedagogia da Arte e da Comunicação e graduado em Rádio e TV, foi quem estruturou o curso. Ele conta que diversos DJs reconhecidos, vira e mexe, são agendados para workshops, a fim de compartilhar um pouco da experiência com o pessoal. Um dos professores, inclusive, é o DJ Magal, que ministra aulas de performance. A infra-estrutura dos estúdios de áudio é preparada para gravação de bandas, prática de discotecagem, manutenção e configuração, possui estações de trabalho com teclados, controladores e interfaces de áudio. Desde o primeiro semestre, o aluno já toma contato com os equipamentos e softwares padrão.
Capacitação profissional
O diploma superior de tecnologia oferece capacitação profissional com domínio da tecnologia e dos aspectos criativos que implicam a produção da música eletrônica, desde a mais conceitual ao dance mais pop. Entre as tracks finalizadas por alunos, é possível encontrar boas referências de house, lounge, techno, minimal e ambient. O coordenador ainda chamou atenção para bons resultados no campo do psy, hip-hop e drum'n'bass, naturalmente também abordados. O programa também visa municiar o estudante para a gerência de um negócio próprio. Além disso, a idéia é que a pessoa saia pronta para atuar em todos os níveis do trabalho, em estúdio e live. Da criação de trilhas para cinema, passando pela produção de bandas até as próprias discotecagens e mixes ao vivo, o recorte acadêmico visa suprir todas as necessidades.
Reinaldo de Oliveira, 40 anos, diz-se impressionado com a própria evolução. Assim como todos os outros, ele passou pelas aulas de apreciação musical, aprendeu a determinar a estética do som pela audição, experimentou até dominar as ferramentas oferecidas pelo Ableton, Logic, Pro Tools e Reason. Sentado diante de uma tela cheia de pistas abertas, ele confere uma última realização antes do recesso acadêmico, relembra dificuldades e mostra orgulhoso algumas partituras e músicas que fabricou sob o nome artístico de Reinaldo Bruxxo. "Quando você entende a música e enxerga suas harmonias como um desenho, fica mais fácil se expressar, passar aquilo que você quer."
Do outro lado, Mateus Vasques, 24 anos, aka Mat Saens, está às voltas com um trabalho de Logic Pro. O teste consiste na criação de uma música de autoria própria em qualquer estilo. A composição deve ter de 4 a 7 minutos com possibilidade de ser feita em dupla. Os mais experientes, observou o professor, deveriam fazer sozinhos. "Utilize a criatividade. Isso valerá nota", é o imperativo que encerra a lista de requisitos elencados em 15 itens. Coisa séria, não?
ExpectativasQuando perguntado a respeito de suas expectativas, o coordenador do curso declarou que "a repercussão tem sido muito boa. A Universidade está muito satisfeita com os resultados e os alunos também, tanto que são eles que, no boca a boca, mais divulgam e recomendam o curso para amigos". Segundo Vergueiro, ao todo são 130 alunos, e contam com acompanhamento de inclusão profissional. "O estágio não é obrigatório, mas altamente recomendável. Este semestre, o prof. Brunno E. e eu entramos em contato com as principais produtoras de áudio e estúdios de gravação e mixagem para apresentar o curso e explicar quais competências e habilidades os alunos desenvolvem", garantiu.
ExpectativasQuando perguntado a respeito de suas expectativas, o coordenador do curso declarou que "a repercussão tem sido muito boa. A Universidade está muito satisfeita com os resultados e os alunos também, tanto que são eles que, no boca a boca, mais divulgam e recomendam o curso para amigos". Segundo Vergueiro, ao todo são 130 alunos, e contam com acompanhamento de inclusão profissional. "O estágio não é obrigatório, mas altamente recomendável. Este semestre, o prof. Brunno E. e eu entramos em contato com as principais produtoras de áudio e estúdios de gravação e mixagem para apresentar o curso e explicar quais competências e habilidades os alunos desenvolvem", garantiu.
Em 2005, quando a Anhembi Morumbi entrou para a rede de Universidades Laureate, a diretora viajou à Europa a fim de conhecer outras instituições também vinculadas à rede. Tomou contato com uma graduação em Produção de Música Eletrônica e daí surgiu a idéia de implantar um curso nos mesmos moldes europeus. De volta, procurou Leonardo e perguntou se ele gostaria de montar uma grade como ela havia visto na Espanha. A partir daí, Léo, envolvido com o eletrônico desde os tempos em que o trance era underground (assinava até as listas de discussão do Chaishop), começou a pesquisar os diversos cursos existentes no exterior e montou uma grade curricular de modo a cobrir todo o conhecimento que o aluno iria precisar para produzir música eletrônica com qualidade. E foi atrás de "profissionais que tivessem a experiência e a competência para ensinar tudo que era necessário".
"Percebemos que a profissão de DJ e Produtor de Música Eletrônica é a profissão dos sonhos de muitos jovens e que ninguém estava oferecendo um curso completo para formar esse profissional", despede-se o coordenador à porta da rua Dr. Almeida Lima, chamando atenção para o fato de que a empreitada foi uma aposta na força da cena de música eletrônica brasileira.
3 comentários:
Muito legal. Aos pouquinhos vcs estão conseguindo conquistar espaço no mercado. Torço por vcs!! Bjs...
Muito legal. Aos pouquinhos vcs estão conseguindo conquistar espaço no mercado. Torço por vcs!! Bjs...
Pois é... pena que só rola em SP um curso deste nível, aqui no rio até tem alguns cursos, mas nada deste nível... bom para os paulistas, que estão virando celeiro de DJs, só espero que além da técnica, tenham bom gosto...
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